@ ALFAMA

Final de tarde e estou em Lisboa. Mais especificamente no Bairro de Alfama. Aquele bairro a que muitos chamam o bairro da melancolia. É mesmo ?
Fecho a porta com força devido aos anos que a mesma tem. Tenho cuidado pois a rua é a descer e o piso escorrega. Olho para cima e vejo a Srª Lurdes que me acena com a mão. Desco a rua e o cheiro a sabão azul e branco invade aquela zona. A roupa estendida nas janelas que quase toca no chão dá cor às paredes brancas, bem como as pequenas sardinheiras da vizinhança...
Passo pela padaria e o cheiro a pão quente deixa-me esfomeada! Entro e peço um pão quente e um sumo de laranja. Encontro o velho Sr. Henrique que fala pelos cotovelos revoltado e com saudades do Salazar. Encontro a jovem que vive no alto do bairro que vai comprar pão para o jantar. Encontro o pequeno Rui que leva as moedas contadas para comprar uma fatia de pizza.
O empregado da padaria cumprimenta-me sorrindo perguntando: " O costume ? "
Com o estômago quente e aconchegado, continuo a dexer a rua. Ouço baixinho o fado que se canta tristemente mas com garra. Olho para dentro, e as luzes tão semi acesas, todos bebem vinho e têm azeitonas em pratos de barro.
Cumprimento o velho casal que passeia pelas ruas do bairro e chora pela ausência dos filhos e netos.
Chego ao largo. O ponto de encontro daqueles que bebem ao final do dia e vão "felizes" para casa.
A chuva cai cada vez mais forte. Fico feliz porque não escorreguei. Viro-me de costas, e penso para mim: Alfama! Ainda estás aqui ... e já tanto tu viveste.
Alfama, abarca consigo idosos que conhecem e viverem a história de Portugal na íntegra. Abarca ainda jovens solteiros que ganham sentimento de comunidade com todos os velhotes que os recebem nas ruas. Abarca crianças pouco vestidas que conhecem as ruas como as regras do futebol.
Muitos ficam por casa a ouvir a televisão no volume máximo. Muitos vão lamentar-se da vida, ouvindo as lamúrias do Fado.
Os candeeiros velhos de Lisboa acendem-se. As pessoas metem o lixo cá fora, pois o camião não passa por lá, apenas fazem a recolha.
Alfama é um bairro com vida! É triste por ter anos e anos e guardar consigo os segredos das famílias que por lá passaram ? É triste porque quando a noite cai fica escuro e ouvem-se mulheres cantar o fado ? É triste por toda a gente se conhecer ?
Não. Alfama abarca consigo felicidade e qualidade de vida. É um ritmo de vida diferente.
Estar em Alfama, parece que estamos num único bairro que está a parte de tudo mas onde tudo se passa na mesma.
Subo as ruas estreitas e escorregadias. Muitas das roupas estendidas já foram recolhidas.
As portas são fechadas mas a segurança permanece. Ccumprimento os meus vizinhos apenas com a mão e sorrindo.
Empurro a porta com força que range de velhice. Subo as escadas estreitas que são traiçoeiras.
Vou à janela e Alfama sorri e diz - me : " Boa Noite Menina e Moça ... "